Já faz muito tempo
que as palavras não adoçam a amargura interior;
que as letras se materializam em sonhos,
e morrem a cada concreta pulsação.
Já faz tempo que a essência adormeceu.
Que o sangue parou de correr,
e enferrujou.
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Eis que no rosicler da aurora,
os pulmões resolveram se encher de poesia
ecoando palavras murchas há muito baldadas.
No coração, as cores do íris
se ramificaram em cravo, rosa e lírio
e irromperam peito afora.
As formigas rastejando nas veias,
abrem caminho pro sangue que corre ligeiro.
E a essência, brilhando nos olhos
a aspiração de quem levou muito tempo pra despertar.