28 de agosto de 2010

Outubro

Lisboa, 2 de outubro de 2014

Meu querido,
Não pergunto como estás, pois não almejo receber notícias suas. Não lhe escrevo esperando qualquer resposta ou empatia, não. Mas imagino que durante muito tempo tenhas se perguntado por onde estive, se ainda era viva e por que havia partido daquela maneira. É por isso que me ponho a lhe escrever.
Por muito tempo tentei dar forma a esta carta. Não pense que achei justo ter te deixado na escuridão durante todos esses anos. A culpa é traiçoeira e corrói aos poucos. E se não lhe escrevi durante tanto tempo, não pense que foi por insensibilidade de minha parte, mas pelo simples fato de não saber como me dirigir a você depois de todos aqueles acontecimentos.
Há vezes em que, meu querido, por melhor que seja o que você tem, simplesmente não é o que você quer. Não quero que se culpe por minha infelicidade. Ninguém é culpado pelo que sentimos, exceto nós mesmos. E tenha certeza de que se eu pudesse escolher ser feliz com alguém, seria com você.
Algumas pessoas conseguem sossegar, serem felizes com outro alguém pelo resto de suas vidas. Meu querido, eu não faço parte dessas pessoas. A necessidade de voar para longe é mais forte que o desejo de ficar. Há tanto mundo pra se ver, afinal. E foi assim, migrando como um pássaro, que encontrei enfim a felicidade.
Peço que compreenda, que não te deixei por falta de sentimento ou consideração. Que meus votos por ti continuam em minhas memórias, e que não deixei de pensar-te por um segundo sequer.
Espero que um dia possas me perdoar, e que quando nos encontrarmos novamente, provavelmente em idade muito mais avançada, possas olhar-me nos olhos.
Com amor,
de sua querida.