22 de junho de 2010

Sobre amores e sonhos

Amor não é. Não se os dois não sentirem o mesmo. Prefiro que seja sonho. Do sonho você acorda, e logo as atividades rotineiras tratam de apagá-lo da memória. Do amor você não acorda, e tudo o que você faz reforça sua existência ao invés de apagá-la. Não, amor não pode ser. Recuso-me a amar sozinha. Sonhar sim. Voar sozinha nos sonhos, sem preocupar-me com o tempo ou espaço. Ninguém voa sozinho no amor. O peso da solidão é tanto que o vôo não vai longe, mesmo tendo as asas de um albatroz e o melhor dos ventos a seu favor. E a dor de cair é pior do que a dor de não poder voar.

20 de junho de 2010

Sentimento Atemporal

Sobre os dias ensolarados, quando o acordar torna-se algo totalmente prazeroso e o dia parece a melhor coisa que poderia acontecer. Quando o bom-humor faz desejar bom dia a qualquer coisa andante que cruzar o seu caminho, e quando o simples fato de olhar-se no espelho faz arrancar um amplo sorriso dos lábios semicerrados, seguido de algumas lágrimas bobas e uma auto-repreensão, lembrando-se de reservar as lágrimas para a tristeza. São os dias em que tudo ganha as mais incríveis combinações de cores, quando a música soa absurdamente perfeita e o café consegue confundir os sentidos, fazendo o paladar sentir sua escuridão, o olfato sua amargura doce e a visão seu cheiro inconfundível. Quando sua presença torna-se palpável em cada coisa. Um segundo de distração é o suficiente pra que sua imagem ocupe completamente os pensamentos, fazendo viajar pra longe, tornando tudo inacreditavelmente perfeito. É quando se depara esquecendo-se de respirar, derrubando o café na roupa e espantando o gato que deitava confortavelmente. E mais uma vez, ri pra si mesmo, voltando seu pensamento à sua distração.

- “Talvez eu goste de você” - suspira, enquanto toma um gole de café e perde-se em pensamentos.

E então chegam os dias de tempestade. Quando acordar é torturante e o dia parece um infortúnio sem tamanho, algo incrivelmente lento e sem previsões de terminar. O espelho é agora deprimente, e as lágrimas refletidas não remetem felicidade. A música torna-se barulho insuportável, a neblina chuvosa deixa tudo ridiculamente opaco e sem cor. O café é intragável, nenhum sentido parece corresponder às prévias apelações do líquido escuro. Quando a única forma de passar o dia é deitar na cama e esperar os sonhos levarem tudo embora. E quando os sonhos demoram a vir, chegam as lágrimas inundando travesseiro e lençóis. Todos os pensamentos dirigem-se incessantemente à causa de tamanho desalento, tentando encontrar respostas nas subjetividades e entrelinhas. A melancolia nunca pareceu tão traiçoeira. A amiga de outrora era agora insuportável, apunhalando seu coração a cada palavra e pensamento, envenenando com lágrimas suas esperanças.

Se é o inverno, que se diverte espalhando o frio nos jovens corações inseguros, se é a desassossegada solidão, sempre implacável. Se é a insegurança que se torna sempre presente, se é a realidade associada à intuição. Se é por pensar demais, ou por sentir demais, não se sabe.

Talvez sejamos apenas nós, em toda nossa bipolaridade infindável.