23 de abril de 2010

Pensar, pensar.

É estranho pensar em como as coisas funcionam. Como o coração não funciona em conjunto com o cérebro, ou como a racionalidade e a emotividade não dividem espaço. Estranho pensar em quão mais fácil as coisas seriam se houvesse um equilíbrio, um consenso.

A razão é certa, e a emoção insensata. O coração ama. O cérebro pensa. E é no pensar que todos buscam a confiança e a certeza.

Confiança. Não se pode confiar no que é inconstante. Pessoas são inconstantes. Ninguém tem certeza, ninguém pode constatar estabilidade. E mesmo assim, as pessoas confiam, e se decepcionam. E se antes o sentimento predominava, agora se esconde, com medo do possível sofrimento. E as pessoas mudam. E tornam-se racionais.

O pensamento de liberdade traz mais conforto do que o pensamento de pertencer a alguém, e então a solidão que se faz presente não parece tão ruim. O pensamento voa, buscando o pensamento de outro alguém, mas a racionalidade permanece, impedindo qualquer movimento que ponha em risco a tão almejada independência.

E enquanto a emoção impele para um gesto, um toque, uma palavra, o pensamento voa em direção contrária, negando qualquer tipo de intervenção não-racional. E o masoquismo despercebido parece seguro e verdadeiro, protetor de tão perverso sentimento que maltrata e cega.

E é quando você se depara olhando pra fora. Olhando pro sol e só vendo janela. Vendo os pássaros sem ouvir o canto. Vendo as flores sem sentir o perfume. É quando a racionalidade sai à procura de explicações lógicas e não encontra. E é quando você percebe que o inexplicável acontece, e que a saudade julgada impossível e inexistente, existe.

E então você julga as mudanças feitas erroneamente, as escolhas que trouxeram infelicidade e os erros cometidos. E você se arrepende. Arrepende-se por ter sido tão racional, por não ter se deixado levar pelo sentimento. E percebe que as coisas outrora tão sensatas, hoje parecem absurdas, e que a solidão antes reconfortante agora dá lugar ao vazio antes julgado impossível.

E como que num último gesto racional, põe-se a observar a chuva em silêncio, pressionando o nariz contra o vidro gelado e fechando os olhos. Imagina se poderia fazer o inesperado, se ainda conseguiria conter a insanidade, se seria tarde demais.

E então você pensa. Mais uma vez, você pensa.