11 de dezembro de 2010

Hey

When I saw you last night, I wanted to say:
"Run away with me, away from these cynics"
That this could be the start of something truly real
But all that I could say was "hey".


1 de dezembro de 2010

Cócegas

Olhos fechados.
Os tons de caramelo se confundindo em seus olhos, em contraste com a pele pálida. Você murmura palavras inaudíveis ao passo que a mente viaja pra outra dimensão. O vento sopra de leve os cabelos escuros e o cachecol. Faz cócegas. O cheiro amadeirado do perfume invade meus pulmões à medida que um arrepio percorre minha espinha de cima a baixo. Suas mãos fechadas sobre as pernas, e o suéter levantado até os cotovelos, deixando à mostra as ramificações de veias azuis.
Luz acertando as íris em cheio. Olhos abertos a contragosto.
Realidade.
O pôr do sol refletindo arco-íris na janela. A cortina voa com a brisa chistosa. Cócegas.
O barulho das ondas beijando a areia toca os pensamentos, e embala o andar preguiçoso na irrepreensível trilha sonora. O cheiro de sal irrompe pela porta. Cheiro de felicidade.
Mar tremeluzente, olhos fechados por um segundo. Palavras inaudíveis, o caramelo se mescla em arco-íris. As mãos tocam as minhas, as ondas nos beijam os pés.
Olhos abertos ao toque gelado do oceano.
As ondas silenciam à medida que tua imagem se esvaece em fulgor.
Os cabelos castanhos voam ao sabor do vento, as pálpebras se fecham.
Teu cheiro amadeirado me toca os pulmões.
Os cantos dos lábios se contraem ligeiros.
Um suspiro.

Magique

- O que, se não amor?
- Mágica.

30 de novembro de 2010

Taciturno

O céu se franze conforme os ponteiros correm, enquanto o mundo gira ao contrário. As folhas dançam pesadamente acima de nossas cabeças, pesadas. Pensamentos escorrendo pelas ruas escuras, em companhia da chuva amarga - que cai impiedosamente, amargurando. Murmúrios preocupados nos ferem os ouvidos, ao mesmo tempo em que os pássaros sufocam e param de cantar. O ar parece mais denso do que o costume. Raios saindo pelos olhos, lendo nossas mentes ilegíveis, enquanto os lábios mudam de cor e se contorcem em sorrisos desbotados. Os dedos alcançam aos céus e tocam a lua, à medida que o chão cede sete palmos a cada expiração. As árvores retas e íntegras curvam-se e põem-se a chorar.
A cabeça lateja, o coração na boca.
Olhos ao chão. Protegendo-nos de nós mesmos.
Tudo muito tácito.

17 de setembro de 2010

Fix You


When you try your best, but you don't succeed;
When you get what you want, but not what you need;
When you feel so tired, but you can't sleep.
Stuck in reverse.

And the tears come streaming down your face;
When you lose something you can't replace;
When you love someone, but it goes to waste;
Could it be worse?

28 de agosto de 2010

Outubro

Lisboa, 2 de outubro de 2014

Meu querido,
Não pergunto como estás, pois não almejo receber notícias suas. Não lhe escrevo esperando qualquer resposta ou empatia, não. Mas imagino que durante muito tempo tenhas se perguntado por onde estive, se ainda era viva e por que havia partido daquela maneira. É por isso que me ponho a lhe escrever.
Por muito tempo tentei dar forma a esta carta. Não pense que achei justo ter te deixado na escuridão durante todos esses anos. A culpa é traiçoeira e corrói aos poucos. E se não lhe escrevi durante tanto tempo, não pense que foi por insensibilidade de minha parte, mas pelo simples fato de não saber como me dirigir a você depois de todos aqueles acontecimentos.
Há vezes em que, meu querido, por melhor que seja o que você tem, simplesmente não é o que você quer. Não quero que se culpe por minha infelicidade. Ninguém é culpado pelo que sentimos, exceto nós mesmos. E tenha certeza de que se eu pudesse escolher ser feliz com alguém, seria com você.
Algumas pessoas conseguem sossegar, serem felizes com outro alguém pelo resto de suas vidas. Meu querido, eu não faço parte dessas pessoas. A necessidade de voar para longe é mais forte que o desejo de ficar. Há tanto mundo pra se ver, afinal. E foi assim, migrando como um pássaro, que encontrei enfim a felicidade.
Peço que compreenda, que não te deixei por falta de sentimento ou consideração. Que meus votos por ti continuam em minhas memórias, e que não deixei de pensar-te por um segundo sequer.
Espero que um dia possas me perdoar, e que quando nos encontrarmos novamente, provavelmente em idade muito mais avançada, possas olhar-me nos olhos.
Com amor,
de sua querida.

12 de julho de 2010

Chico Buarque

Era desgostosa a vida que viviam. Eduardo, sempre comprometido com o trabalho, pouco tempo encontrava pra Maria, que ocupava seu tempo nas tarefas domésticas.
Eduardo trabalhava por ela, pra não deixar que nada nunca faltasse. Era esse pensamento que o mantinha firme e forte em suas intermináveis jornadas de trabalho.
Maria sentava-se chorosa na poltrona da sala, enquanto escutava "Eu te amo" de Chico Buarque na vitrola. Pensava que Eduardo não mais a amava, e por esse pensamento chorava uma vez mais.
E foi num desses dias, enquanto Maria lembrava dos bons tempos de outrora, que Eduardo chegou mais cedo. Foi Chico Buarque cantando os versos de Eu te amo no rádio de seu carro que o fez perceber o amor que escorria entre seus dedos.
Maria limitou-se a olhar em direção à porta, perdida em pensamentos. Foi quando Eduardo entrou com um sorriso no rosto, há tempos esquecido por ela.
Eduardo a abraçou, dizendo o quanto a amava e o quanto sentia sua falta. E então ele viu um sorriso maior que o mundo abrindo-se diante de seus olhos, e soube que era o homem mais feliz do mundo.
E saíram dançando. O abraço de Eduardo despertou nos dois o amor há muito adormecido. E dançaram, trotaram, rodopiaram ao som das doces notas imaginárias de Vivaldi. Os dois sabiam que a partir daquele dia, eles não eram mais um casal. Eram, pois, um só.

"Ah, se ao te conhecer
Dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir?"

3 de julho de 2010

Funny Little Frog


I’ll maybe tell you all about it someday.

2 de julho de 2010

Peur

Há situações em que sabemos exatamente o que fazer. Quando a solução é um clichê efetivo, uma resposta universal. Todos respondem da mesma maneira à determinada situação sem nenhuma necessidade de reflexão prévia.

É quando acontece algo diferente, algo até então sem resposta. Algo que te deixa completamente desamparado, tentando buscar suas próprias soluções. Quando você tenta coordenar os sentimentos com pensamentos, deixando tudo tão bagunçado a ponto de te fazer perder a cabeça. Porque sentimentos são inexplicáveis, e disso nós sabemos. Mas ainda assim, tentamos encontrar racionalidade, porque temos medo. Medo de sentir, medo de perder o controle.

Medo de ser feliz.

22 de junho de 2010

Sobre amores e sonhos

Amor não é. Não se os dois não sentirem o mesmo. Prefiro que seja sonho. Do sonho você acorda, e logo as atividades rotineiras tratam de apagá-lo da memória. Do amor você não acorda, e tudo o que você faz reforça sua existência ao invés de apagá-la. Não, amor não pode ser. Recuso-me a amar sozinha. Sonhar sim. Voar sozinha nos sonhos, sem preocupar-me com o tempo ou espaço. Ninguém voa sozinho no amor. O peso da solidão é tanto que o vôo não vai longe, mesmo tendo as asas de um albatroz e o melhor dos ventos a seu favor. E a dor de cair é pior do que a dor de não poder voar.

20 de junho de 2010

Sentimento Atemporal

Sobre os dias ensolarados, quando o acordar torna-se algo totalmente prazeroso e o dia parece a melhor coisa que poderia acontecer. Quando o bom-humor faz desejar bom dia a qualquer coisa andante que cruzar o seu caminho, e quando o simples fato de olhar-se no espelho faz arrancar um amplo sorriso dos lábios semicerrados, seguido de algumas lágrimas bobas e uma auto-repreensão, lembrando-se de reservar as lágrimas para a tristeza. São os dias em que tudo ganha as mais incríveis combinações de cores, quando a música soa absurdamente perfeita e o café consegue confundir os sentidos, fazendo o paladar sentir sua escuridão, o olfato sua amargura doce e a visão seu cheiro inconfundível. Quando sua presença torna-se palpável em cada coisa. Um segundo de distração é o suficiente pra que sua imagem ocupe completamente os pensamentos, fazendo viajar pra longe, tornando tudo inacreditavelmente perfeito. É quando se depara esquecendo-se de respirar, derrubando o café na roupa e espantando o gato que deitava confortavelmente. E mais uma vez, ri pra si mesmo, voltando seu pensamento à sua distração.

- “Talvez eu goste de você” - suspira, enquanto toma um gole de café e perde-se em pensamentos.

E então chegam os dias de tempestade. Quando acordar é torturante e o dia parece um infortúnio sem tamanho, algo incrivelmente lento e sem previsões de terminar. O espelho é agora deprimente, e as lágrimas refletidas não remetem felicidade. A música torna-se barulho insuportável, a neblina chuvosa deixa tudo ridiculamente opaco e sem cor. O café é intragável, nenhum sentido parece corresponder às prévias apelações do líquido escuro. Quando a única forma de passar o dia é deitar na cama e esperar os sonhos levarem tudo embora. E quando os sonhos demoram a vir, chegam as lágrimas inundando travesseiro e lençóis. Todos os pensamentos dirigem-se incessantemente à causa de tamanho desalento, tentando encontrar respostas nas subjetividades e entrelinhas. A melancolia nunca pareceu tão traiçoeira. A amiga de outrora era agora insuportável, apunhalando seu coração a cada palavra e pensamento, envenenando com lágrimas suas esperanças.

Se é o inverno, que se diverte espalhando o frio nos jovens corações inseguros, se é a desassossegada solidão, sempre implacável. Se é a insegurança que se torna sempre presente, se é a realidade associada à intuição. Se é por pensar demais, ou por sentir demais, não se sabe.

Talvez sejamos apenas nós, em toda nossa bipolaridade infindável.

24 de maio de 2010

Cândidos amores

Eu da morte as angústias e os horrores
Por mil vezes sem morrer tolero.

Pelo Céu, por teus olhos te assevero
Que ferve esta alma em cândidos amores;
Longe o prazer de ilícitos favores!
Quero o teu coração, mais nada quero.

Carta de Amor

Amo-te doidamente e quero-te também que nem me atrevo a desejar que em ti se renovem arrebatamentos iguais aos meus. Morria ou acabaria por morrer de mágoas se estiver certa de que não podias ter descanso, que a tua vida era só desassossego e desvairo, que passavas o tempo a chorar e que tudo te causava desgosto. Se mal posso com as minhas penas, como aguentaria a dor de ver as tuas, que sinto mil vezes mais? [...]
Parece-me que falo demais no estado deplorável que me encontro. No entanto, do fundo do coração te agradeço o desespero que me causas, e detesto a tranquilidade em que vivi antes de te conhecer.

9 de maio de 2010

Don't belong


When all that you wanted and all that you have don't seem so much
For you to hold on to
For you to belong to
...

23 de abril de 2010

Pensar, pensar.

É estranho pensar em como as coisas funcionam. Como o coração não funciona em conjunto com o cérebro, ou como a racionalidade e a emotividade não dividem espaço. Estranho pensar em quão mais fácil as coisas seriam se houvesse um equilíbrio, um consenso.

A razão é certa, e a emoção insensata. O coração ama. O cérebro pensa. E é no pensar que todos buscam a confiança e a certeza.

Confiança. Não se pode confiar no que é inconstante. Pessoas são inconstantes. Ninguém tem certeza, ninguém pode constatar estabilidade. E mesmo assim, as pessoas confiam, e se decepcionam. E se antes o sentimento predominava, agora se esconde, com medo do possível sofrimento. E as pessoas mudam. E tornam-se racionais.

O pensamento de liberdade traz mais conforto do que o pensamento de pertencer a alguém, e então a solidão que se faz presente não parece tão ruim. O pensamento voa, buscando o pensamento de outro alguém, mas a racionalidade permanece, impedindo qualquer movimento que ponha em risco a tão almejada independência.

E enquanto a emoção impele para um gesto, um toque, uma palavra, o pensamento voa em direção contrária, negando qualquer tipo de intervenção não-racional. E o masoquismo despercebido parece seguro e verdadeiro, protetor de tão perverso sentimento que maltrata e cega.

E é quando você se depara olhando pra fora. Olhando pro sol e só vendo janela. Vendo os pássaros sem ouvir o canto. Vendo as flores sem sentir o perfume. É quando a racionalidade sai à procura de explicações lógicas e não encontra. E é quando você percebe que o inexplicável acontece, e que a saudade julgada impossível e inexistente, existe.

E então você julga as mudanças feitas erroneamente, as escolhas que trouxeram infelicidade e os erros cometidos. E você se arrepende. Arrepende-se por ter sido tão racional, por não ter se deixado levar pelo sentimento. E percebe que as coisas outrora tão sensatas, hoje parecem absurdas, e que a solidão antes reconfortante agora dá lugar ao vazio antes julgado impossível.

E como que num último gesto racional, põe-se a observar a chuva em silêncio, pressionando o nariz contra o vidro gelado e fechando os olhos. Imagina se poderia fazer o inesperado, se ainda conseguiria conter a insanidade, se seria tarde demais.

E então você pensa. Mais uma vez, você pensa.

25 de março de 2010

Contentamento descontente



Esse sentimento, que desperta alegria e riqueza nos mais desafortunados, nos faz voar sem termos asas, nos faz esquecer os problemas mundanos, e faz nosso coração bater, oh, tão rápido, como se ele quisesse saltar pra fora do peito. Que machuca, desespera, agonia. Faz-nos ser presos por vontade, não querer mais nada além de bem-querer, uma alegria triste, um júbilo choroso.
Volubilidade. Uma palavra é o bastante pra fazer mudar de idéia. Um gesto, um momento. Palavras – tão sinceras - ditas olhos nos olhos, já não parecem tão sinceras assim. Gestos tão espontaneamente perfeitos, já não passam de simples gestos. Planos tão concretamente idealizados, já não passam de meros planos utópicos de outros dias. E as promessas – ah, as promessas- tão verdadeiramente esboçadas, tão fielmente aceitas, viraram lembranças lúcidas de um período de insanidade.
E o vazio. Onde antes habitava um sentimento tão grande e absurdo que já nem cabia mais lá. Tudo dá lugar ao vazio, triste e silencioso vazio que não guarda nada. E então vem o nó, que sobe pela garganta, sufoca, machuca, e faz marejar os olhos. As lágrimas. Tão grossas quanto as gotas de chuva no inverno. E as lembranças inevitáveis. O cd em cima da cômoda. O caminhar, que já é por si só suficiente pra trazer uma enxurrada de lembranças do que foi. A angústia que permanece, e ao mesmo tempo em que machuca, torna-se uma inquilina confortável, uma centelha do amor que já foi. Uma lembrança sentida, um pedaço do que partiu.
E então o não-amor, o desprezo, o desespero. Torna-se repugnante seu próprio reflexo. A comida não é como antes, a música não soa como deveria, os filmes, o sol, o vento, o tempo. Tudo muda, sem nada ter realmente mudado.
Tão contrário a si mesmo, o Amor.

O amor que choveu

A história de uma paixão maior que o mundo


Era uma vez um menino que amava demais. Amava tanto, mas tanto, que o amor nem cabia dentro dele. Saía pelos olhos, brilhando, pela boca, cantando, pelas pernas, tremendo, pelas mãos, suando. (Só pelo umbigo é que não saía: o nó ali era tão bem dado que nunca houve um só que tenha soltado).

O menino sabia que o único jeito de resolver a questão era dando o amor à menina que amava. Mas como saber o que ela achava dele? Na classe, tinha mais 15 meninos. Na escola, 300. No mundo, vai saber, uns 2 bilhões? Como é que ia acontecer de a menina se apaixonar justo por ele, que tinha se apaixonado por ela?

O menino tentou trancar o amor numa mala, mas não tinha como: nem sentando em cima o zíper fechava. Resolveu então congelar, mas era tão quente o amor, que fundiu o freezer, queimou a tomada, derrubou a energia do prédio, do quarteirão e logo o menino saiu andando pela cidade escura – só ele brilhando nas ruas, deixando pegadas de Star Fix por onde pisava.

O que é que eu faço? – perguntou ao prefeito, ao amigo, ao doutor e a um pessoalzinho que passava a vida sentado em frente ao posto de gasolina. Fala pra ela! – diziam todos, sem pensar duas vezes, mas ele não tinha coragem.

E se ela não o amasse?

E se não aceitasse todo o amor que ele tinha pra dar? Ele ia murchar que nem uva passa, explodir como bexiga e chorar até 31 de dezembro de 2978.

Tomou então a decisão: iria atirar seu amor ao mar. Um polvo que se agarrasse a ele – se tem 8 braços para os abraços, por que não 4 corações para as suas paixões? Ele é que não dava conta, era só um menino, com apenas duas mãos e o maior sentimento do mundo.

Foi até a beira da praia e, sem pensar duas vezes, jogou. O que o menino não sabia era que seu amor era maior do que o mar. E o amor do menino fez o oceano evaporar. Ele chorou, chorou e chorou pela morte do mar e de seu grande amor.

Até que sentiu uma gota na ponta do nariz. Depois outra, na orelha e mais outra, no dedão do pé. Era o mar, misturado ao amor do menino, que chovia do Saara a Belém, de Meca a Jerusalém. Choveu tanto que acabou molhando a menina que o menino amava. E assim que a água tocou sua língua, ela saiu correndo para a praia, pois já fazia meses que sentia o mesmo gosto, o gosto de um amor tão grande, mas tão grande que já nem cabia dentro dela.


6 de janeiro de 2010

[...]



[...]
A felicidade intensa
Que se perde e encontra em ti
Luz dilui-se e adensa-se
Pensa-te