22 de janeiro de 2011

Fate

O futuro e o passado, idênticos um ao outro; neve depois verão, e depois neve outra vez.

10 de janeiro de 2011

Asas

Era uma vez um pássaro. Adornado com um par de asas perfeitas e plumas reluzentes, coloridas e maravilhosas. Enfim, um animal feito para voar livre e solto do céu, alegrar quem o observasse.
Um dia, uma mulher viu este pássaro e se apaixonou por ele. Ficou olhando o seu vôo com a boca aberta de espanto, o coração batendo mais rápido, os olhos brilhando de emoção. Convidou-o para voar com ela, e os dois viajaram pelo céu em completa harmonia. Ela admirava, venerava, celebrava o pássaro.
Mas então pensou: talvez ele queira conhecer algumas montanhas distantes! E a mulher sentiu medo. Medo de nunca mais sentir aquilo com outro pássaro. E sentiu inveja, inveja da capacidade de voar do pássaro.
E sentiu-se sozinha.
E pensou: "Vou montar uma armadilha. A próxima vez que o pássaro surgir, ele não mais partirá."
O pássaro, que também estava apaixonado, voltou no dia seguinte, caiu na armadilha, e foi preso na gaiola.
Todos os dias ela olhava o pássaro. Ali estava o objeto de sua paixão, e ela mostrava para suas amigas que comentavam: "Mas você é uma pessoa que tem tudo." Entretanto, uma estranha transformação começou a processar-se: como tinha o pássaro e já não precisava conquistá-lo, foi perdendo o interesse. O pássaro, sem poder voar e exprimir o sentido de sua vida, foi definhando, perdendo o brilho, ficou feio - e a mulher já não prestava mais atenção nele, apenas na maneira como o alimentava e como cuidava de sua gaiola.
Um belo dia, o pássaro morreu. Ela ficou profundamente triste, e vivia pensando nele. Mas não se lembrava da gaiola, recordava apenas o dia em que o vira pela primeira vez, voando contente entre as nuvens.
Se ela observasse a si mesma, descobriria que aquilo que a emocionava tanto no pássaro era a sua liberdade, a energia das asas em movimento, não o seu corpo físico.
Sem o pássaro, sua vida também perdeu o sentido, e a morte veio bater à sua porta. "Por que você veio?", perguntou à morte.
"Para que você possa voar de novo com ele nos céus", respondeu a morte. "Se o tivesse deixado partir e voltar sempre, você o amaria e o admiraria ainda mais; entretanto, agora você precisa de mim para poder encontrá-lo de novo."

Onze Minutos

- Você está falando de amor como uma professora.
Maria resolveu falar, porque esta era a sua defesa, sua maneira de dizer tudo sem comprometer-se com nada:
- Quem está apaixonado está fazendo amor o tempo todo, mesmo quando não está fazendo. Quando os corpos se encontram, é apenas o transbordar da taça. Podem ficar juntos por horas, até dias. Podem começar a dança em um dia e acabar em outro, ou até mesmo não acabar, de tanto prazer. Nada a ver com onze minutos.
- O quê?
- Eu te amo.
- Eu também te amo.
- Perdão. Não sei o que estou dizendo.
- Nem eu.
Levantou-se, deu-lhe um beijo e saiu.