Volubilidade. Uma palavra é o bastante pra fazer mudar de idéia. Um gesto, um momento. Palavras – tão sinceras - ditas olhos nos olhos, já não parecem tão sinceras assim. Gestos tão espontaneamente perfeitos, já não passam de simples gestos. Planos tão concretamente idealizados, já não passam de meros planos utópicos de outros dias. E as promessas – ah, as promessas- tão verdadeiramente esboçadas, tão fielmente aceitas, viraram lembranças lúcidas de um período de insanidade.
E o vazio. Onde antes habitava um sentimento tão grande e absurdo que já nem cabia mais lá. Tudo dá lugar ao vazio, triste e silencioso vazio que não guarda nada. E então vem o nó, que sobe pela garganta, sufoca, machuca, e faz marejar os olhos. As lágrimas. Tão grossas quanto as gotas de chuva no inverno. E as lembranças inevitáveis. O cd em cima da cômoda. O caminhar, que já é por si só suficiente pra trazer uma enxurrada de lembranças do que foi. A angústia que permanece, e ao mesmo tempo em que machuca, torna-se uma inquilina confortável, uma centelha do amor que já foi. Uma lembrança sentida, um pedaço do que partiu.
E então o não-amor, o desprezo, o desespero. Torna-se repugnante seu próprio reflexo. A comida não é como antes, a música não soa como deveria, os filmes, o sol, o vento, o tempo. Tudo muda, sem nada ter realmente mudado.
Tão contrário a si mesmo, o Amor.