Era desgostosa a vida que viviam. Eduardo, sempre comprometido com o trabalho, pouco tempo encontrava pra Maria, que ocupava seu tempo nas tarefas domésticas.
Eduardo trabalhava por ela, pra não deixar que nada nunca faltasse. Era esse pensamento que o mantinha firme e forte em suas intermináveis jornadas de trabalho.
Maria sentava-se chorosa na poltrona da sala, enquanto escutava "Eu te amo" de Chico Buarque na vitrola. Pensava que Eduardo não mais a amava, e por esse pensamento chorava uma vez mais.
E foi num desses dias, enquanto Maria lembrava dos bons tempos de outrora, que Eduardo chegou mais cedo. Foi Chico Buarque cantando os versos de Eu te amo no rádio de seu carro que o fez perceber o amor que escorria entre seus dedos.
Maria limitou-se a olhar em direção à porta, perdida em pensamentos. Foi quando Eduardo entrou com um sorriso no rosto, há tempos esquecido por ela.
Eduardo a abraçou, dizendo o quanto a amava e o quanto sentia sua falta. E então ele viu um sorriso maior que o mundo abrindo-se diante de seus olhos, e soube que era o homem mais feliz do mundo.
E saíram dançando. O abraço de Eduardo despertou nos dois o amor há muito adormecido. E dançaram, trotaram, rodopiaram ao som das doces notas imaginárias de Vivaldi. Os dois sabiam que a partir daquele dia, eles não eram mais um casal. Eram, pois, um só.
"Ah, se ao te conhecer
Dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir?"