
É estranho pensar em como as coisas funcionam. Como o coração não funciona em conjunto com o cérebro, ou como a racionalidade e a emotividade não dividem espaço. Estranho pensar em quão mais fácil as coisas seriam se houvesse um equilíbrio, um consenso.
A razão é certa, e a emoção insensata. O coração ama. O cérebro pensa. E é no pensar que todos buscam a confiança e a certeza.
Confiança. Não se pode confiar no que é inconstante. Pessoas são inconstantes. Ninguém tem certeza, ninguém pode constatar estabilidade. E mesmo assim, as pessoas confiam, e se decepcionam. E se antes o sentimento predominava, agora se esconde, com medo do possível sofrimento. E as pessoas mudam. E tornam-se racionais.
O pensamento de liberdade traz mais conforto do que o pensamento de pertencer a alguém, e então a solidão que se faz presente não parece tão ruim. O pensamento voa, buscando o pensamento de outro alguém, mas a racionalidade permanece, impedindo qualquer movimento que ponha em risco a tão almejada independência.
E enquanto a emoção impele para um gesto, um toque, uma palavra, o pensamento voa em direção contrária, negando qualquer tipo de intervenção não-racional. E o masoquismo despercebido parece seguro e verdadeiro, protetor de tão perverso sentimento que maltrata e cega.
E é quando você se depara olhando pra fora. Olhando pro sol e só vendo janela. Vendo os pássaros sem ouvir o canto. Vendo as flores sem sentir o perfume. É quando a racionalidade sai à procura de explicações lógicas e não encontra. E é quando você percebe que o inexplicável acontece, e que a saudade julgada impossível e inexistente, existe.
E então você julga as mudanças feitas erroneamente, as escolhas que trouxeram infelicidade e os erros cometidos. E você se arrepende. Arrepende-se por ter sido tão racional, por não ter se deixado levar pelo sentimento. E percebe que as coisas outrora tão sensatas, hoje parecem absurdas, e que a solidão antes reconfortante agora dá lugar ao vazio antes julgado impossível.
E como que num último gesto racional, põe-se a observar a chuva em silêncio, pressionando o nariz contra o vidro gelado e fechando os olhos. Imagina se poderia fazer o inesperado, se ainda conseguiria conter a insanidade, se seria tarde demais.
E então você pensa. Mais uma vez, você pensa.
c'est très jolie.
ResponderExcluirÀs vezes me sinto assim. Em maior parte do meu tempo procuro pensar racionalmente deixando as emoções de lado, agindo só pela lógica e pela razão é difícil, principalmente porque eu sei que não deveria dar tanta importância para coisas que não devem ser tão valorizadas.Mas...
ResponderExcluirAmei esse texto!
Beijo Elo.
Profª Bethy